PESQUISADOR ESTUDA HOSPITAL SARAH FORTALEZA
MOTIVADO PELA VONTADE DE MELHOR COMPREENDER AS VARIÁVEIS DE CONFORTO AMBIENTAL E SUA INTEGRAÇÃO COM O PROJETO ARQUITETÔNICO, JORGE ISAAC PERÉN FOCOU SEU MESTRADO NO PROJETO DO HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE FORTALEZA, CONCEBIDO PELO ARQUITETO JOÃO FILGUEIRAS LIMA (LELÉ)
Para Isaac Perén, as obras de Lelé evidenciam as melhores soluções bioclimáticas para favorecer a ventilação e a iluminação naturais. A preocupação constante com o conforto ambiental e a economia de energia são características de suas obras: escolas, centros de vivência, elementos para infra-urbana, mobiliário urbano e hospitais.
Apesar de Lelé ter um conjunto de obras voltadas para a arquitetura bioclimática, Perén optou por projetos de hospitais pela sua complexidade. “O arquiteto que consegue soluções bioclimáticas em hospitais conseguirá em qualquer outra edificação”, afirma.
As soluções arquitetônicas para esse tipo de projeto estão subordinadas às características climáticas do local. “Por isso, a orientação, forma do edifício e as características de seus componentes - geometria e orientação de janelas, aberturas, cobertura e paredes - respondem à direção dos ventos e à posição do sol”, observa Perén.
Sistemas de ventilação |
Tº.M.: 26º/27º U.R.: 82% V.: 5.6/8.0 Knots (sudeste) |
O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste |
O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste |
Fachada sudoeste |
Fachada sudeste |
O hospital da rede Sarah em Fortaleza foi construído sobre um terreno cuja topografia, natureza do solo e nível do lençol freático favoreceram a execução da obra. Uma grande área arborizada, abundante em espécies locais, ocupa mais de 1/3 do terreno. Um bloco vertical abriga apartamentos e enfermarias.
“Embora a disposição horizontal seja a ideal para projetos de hospitais, pois possibilita o acesso direto dos pacientes aos jardins adjacentes às áreas de tratamento e internação, no Sarah Fortaleza o arquiteto optou por verticalizar parte do programa para preservar a grande área arborizada do terreno”, afirma Perén.
VENTILAÇÃO
Para o pesquisador, a setorização do hospital Sarah Kubitschek Fortaleza ilustra bem esses aspectos. O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste. Da mesma forma, as galerias de ventilação, no subsolo, foram orientadas para captar os ventos dominantes. E os sheds funcionam como sucção do ar quente. O bloco vertical (enfermarias e internação) foi localizado na parte posterior do terreno para não barrar as correntes de ar e permitir, assim, a ventilação natural dos ambientes flexíveis.
Os ambientes com ar-condicionado estão localizados na parte posterior ou na lateral do edifício, dando assim uma localização mais privilegiada para os ambientes ventilados naturalmente. Para atender aos princípios da ventilação natural foram desenvolvidos dois sistemas, que podem operar simultaneamente: o de convecção e o de ventilação cruzada. No modo por convecção, o ar frio é injetado através das galerias de ventilação do subsolo e extraído pelos sheds, com as aberturas a favor dos ventos dominantes, dando o efeito de sucção.
Merece atenção especial, devido ao funcionamento das galerias de ventilação. Já o sistema de ventilação cruzada ocorre através de dois sheds, com aberturas voltadas em sentido oposto. A eficiência desse sistema poderá ser eventualmente aumentada com o emprego de equipamento mecânico de exaustão ou insuflamento, localizado na abertura do shed.
Outro dado da pesquisa de Perén é que, no hospital de Fortaleza, a grande cobertura em arco está formada por vigas de metal apoiadas nos pilares periféricos da área de fisioterapia. Lâminas de metal, apoiadas às vigas, permitem a ventilação dos ambientes e funcionam como brises, protegendo o jardim interno da radiação direta do sol e da chuva. A cobertura em arco foi concebida com brises móveis, que deveriam mudar sua inclinação conforme a passagem do sol. Mas essa idéia não foi executada e a inclinação dos brises é fixa.
Perén observa que o arquiteto é quem orienta e deve saber que, hoje, os itens bioclimáticos são uma exigência de projeto. Porém devem estar contidos no raciocínio projetual. “Precisamos evoluir e integrar mais a prática à pesquisa. E alimentar, assim, a indústria, na procura de componentes de melhor qualidade”, conclui Perén, que cita o custo como uma limitante nos projetos.
Ao final de sua pesquisa, o arquiteto concluiu que a forma é fundamental para garantir eficientes ventilação e iluminação naturais. “A forma do edifício não pode ser gratuita e atender unicamente a valores estéticos. Quando se chega a uma forma, cujo objetivo é favorecer a passagem do vento e a entrada da luz natural, talvez seja um pouco mais difícil, mas é mais inteligente.
O programa hospitalar pode ser agrupado em: ambientes flexíveis (passíveis de serem ventilados naturalmente) e ambientes especiais (com ventilação artificial). Dependendo das características climáticas do local, a setorização do programa pode ser realizada a partir desses aspectos, localizando os ambientes flexíveis em função dos ventos dominantes”, finaliza Perén.
Inaugurado em setembro de 2001, o hospital da rede Sarah em Fortaleza tem capacidade instalada de 61 leitos. Isaac Perén formou-se em 2002, pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
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